segunda-feira, 18 de abril de 2011

ESTUDO ARQUITETÔNICO DA CIDADE DE JAICÓS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CAMPUS SENADOR HELVÍDIO NUNES DE BARROS

CURSO DE HISTÓRIA
GESTÃO DE PESQUISA EM HISTÓRIA I


Relatório


Título: Estudo arquitetônico da cidade de Jaicós
Coordenador: Rosberg Santos
Co-Orientador: Nilvon Batista
Colaboradores: Francisco Júnior, Antonia Claudia, Jansen Nunes, Rafael Luz, Kairo Igor, Karla Ingrid, José de Deus, Maria Luzia.


Propomos no projeto o levantamento de dados sobre a Igreja de Nossa Senhora das Mercês e do casario a sua volta, ambos localizados na cidade de Jaicós. Essas informações seriam adquiridas através da leitura de material bibliográfico sobre os monumentos históricos, através do patrimônio cultural urbano, além de entrevistas direcionadas a historiadores, ao padre, moradores e professores da cidade, onde através destas passaremos a compreender como se deu à construção daqueles monumentos e qual a influência socioeconômica dos habitantes dessas edificações desde a sua construção até a sua formação atual.
Ainda para a obtenção de um maior numero de dados, nos disponibilizamos a aplicarmos um questionário por meio do qual buscaríamos conhecer sobre os idealizadores das construções, traços arquitetônicos, estilos de construção e suas particularidades. Para tal compreensão, seriam fotografadas e analisadas as evoluções dos monumentos arquitetônicos (Igreja de Nossa Senhora das Mercês e do casario ao seu redor).
Diante do trabalho de pesquisa realizado na cidade de Jaicós podemos fazer uma boa avaliação dos objetivos e metas propostos, desde a chegada ao centro histórico até a realização das entrevistas que ocorreu dentro das expectativas previstas, com ressalva a entrevista ao Padre Francisco, este que não pode estar na ocasião. A observação e comparação dos monumentos se realizaram com base em metas de utilização dos conhecimentos da disciplina Gestão de Pesquisa em História I, assim como, os dados necessários para a elaboração desse relatório. Quanto à divulgação do resultado da pesquisa em páginas da internet, cabe a conclusão e avaliação do mesmo para tal estratégia ser colocada em ação.
Fazendo uma análise da metodologia de trabalho proposta, podemos dizer que a partir da atividade realizada, os métodos de observação e aquisição de dados se deram de maneira satisfatória, contribuindo para a elaboração do relatório e enriquecendo o nosso conhecimento sobre a história da cidade de Jaicós. A fundamentação da nossa pesquisa na História Cultural e na perspectiva da Autora Sandra Jatahy Pesavento nos deu subsídios necessários para a compreensão da arquitetura da cidade estudada.

Em relação aos recursos citados inicialmente na elaboração do projeto, não foi possível a utilização da filmadora e gravadores na ocasião. No entanto, os outros recursos utilizados foram de suma importância para a realização da pesquisa. As câmeras fotográficas digitais empregadas no registro dos monumentos, o uso para armazenamento de dados através do notebook e pen-drive e por fim, a utilização da Viatura (Van) a para a realização do deslocamento da equipe na busca de documentos e outras informações.
               
                Com base no projeto de pesquisa que elaboramos e no trabalho realizado no município de Jaicós sobre a arquitetura da Igreja de Nossa Senhora das Mercês e das casas construídas ao seu redor chegamos as seguintes compreensões:
A construção da igreja em 1833 foi fundamental para o surgimento do casario em torno da mesma. Essas edificações aconteceram em dois momentos, inicialmente a partir do ano de 1839 e mais tarde após 1940.



Fig. 1: Casarão mais antigo – 1839


Fig. 2: Detalhes fig. 1

Fig. 3: casario após 1940

Fig. 4: Detalhes fig. 3


É fato que já existia um povoamento no local antes da edificação da matriz e dos casarões. Através de pesquisas realizadas por historiadores locais ficamos informados sobre a existência de um aldeamento de índios no inicio do século XVIII por ordem do governador do Piauí João Pereira Caldas que recomendou o aldeamento com a finalidade de amenizar os ataques promovidos pelos índios nas fazendas da região. Os jesuítas fundaram uma capela naquela aldeia onde passaram a visitar constantemente. A partir desse acontecimento a formação de uma vila era só uma questão de tempo.
O aldeamento foi elevado à categoria de vila desde 1932 e com o retorno do Padre Marcos de Araújo Costa, de Coimbra em Portugal, onde se encontrava no seminário concluindo seus estudos, impulsiona o desenvolvimento da localidade com o inicio da construção da Igreja, que foi concluída em 1937 no “estilo barroco-rococó com uma só torre, tendo em cima um galo dos ventos” (OLIVEIRA), segundo os historiadores de Jaicós esse galo traz vários significados na relação com a igreja, entre eles, uma simbologia de vigília. Essa era mais uma tradição de Portugal incorporada à cultura daquele povo por intermédio do Padre Marcos e de outros padres e ordem religiosa que vieram trabalhar naquela localidade.



Fig. 4: Igreja N. S. das Mercês – Jaicós – PI

Fig. 5: Detalhes fig. 4


Podemos constatar que os casarões da primeira fase têm forte influencia da arquitetura portuguesa da época, assim como a igreja, essas construções foram realizadas pelo padre Marcos. “Construiu ainda o Padre uma casa [...] que vendeu ao governo para servir de câmara, fórum, cadeia e quartel do destacamento policial” (OLIVEIRA). Essa casa localizada em frente à igreja é utilizada atualmente como sede do Fórum, a mesma encontra-se em ótimo estado de conservação e mantém o estilo original no seu exterior.




Fig. 6: Igreja N. S. das Mercês


Fig. 7: Detalhes fig. 6


Fig. 8: Casarão da 1ª Fase

Fig. 9: Fórum Municipal


            À direita do Fórum existem outras casas da mesma época, inclusive uma construída pelo Pe. Claro Mendes de carvalho, no mesmo estilo. Porem essas edificações sofreu muitas mudanças tanto na parte exterior quanto no interior das mesmas. Podemos observar que as frentes dessas casas conservam traços originais da construção, embora tenham mudado a pintura, já dentro delas as transformações descaracterizaram quase totalmente a arquitetura original, na maioria já trocaram o piso, acrescentaram forros de gesso no teto e construíram novos cômodos, restando apenas algumas características com a forma de algumas colunas e paredes, objetos antigos, etc.



Fig. 10: Casario à direita do Fórum

Fig. 11: Casario à direita do Fórum

Fig. 12: Casario à direita do Fórum

Fig. 13: Detalhes da portas e objetos




Fig. 14: Detalhes da parede

Fig. 15: Detalhes (Moderno X Antigo)


As construções do inicio do século XX até 1940 são a maioria. Algumas conservam as fachadas em ótimo estado onde podemos identificar bem a semelhança entre as mesmas e constatar que são de uma mesma época. Após 1940 houve um pico econômico que possibilitou a uma elite local construir residências luxuosas para os padrões daquela época. A sociedade de Jaicós, a exemplo de todo o estado do Piauí, vivia um período econômico muito bom com o apogeu do ciclo da carnaúba.

O preço da cera de carnaúba voltou a subir a partir de 1935. Durante a II Grande Guerra (1939 a 1945) [...] houve a corrida para a cera. A guerra deu margem para que a cera de carnaúba fosse utilizada em uma infinidade de aplicações.
[...] nesse período a carnaúba era responsável por 70 por cento da receita estadual. Quase toda a região norte do Piauí prosperou graças ao produto. Foi a época da construção dos palacetes. (TAVARES, p. 59).

            As casas pós-1940 localizam-se mais à direita e à retaguarda da igreja. Um dos fatores que contribuíram para a reforma e consequentemente a descaracterização da arquitetura dessas casas foi à instalação de salas comerciais e repartições públicas devido à localização excelente para essas atividades.


                   Croqui da área da Igreja Nossa Senhora das Mercês


Outro aspecto relevante que nos proporciona essa pesquisa é a constatação da preferência habitacional das classes mais ricas e detentora do poder político e econômico local em estabelecer suas residências em volta da igreja matriz e das edificações administrativas. A exuberância das fachadas representava o status social das famílias ali residentes. Esse cenário era muito comum nas vilas do Brasil colonial e imperial. A própria família Real quando veio para o Brasil no inicio do século XIX habitava em um cenário semelhante, de acordo com Lília Schwarcz (p. 207): “Se a casa de um nobre era um distintivo de classe e seu aspecto exterior era símbolo da posição da importância e da hierarquia de seu chefe, o palácio do imperador deveria ser impar”. Ainda, conforme a mesma autora, “é fato que durante todo o reinado o paço da Cidade foi o cenário dileto da monarquia. Sua estrutura imponente simbolizava a força da realeza, sua centralidade na corte era sinônimo do poder da monarquia.” (SCHWARCZ, p. 215).



Fig. 16: Casarão à direita da igreja

Fig. 17: Casarão à direita da igreja


Fig. 18: Casario à direita da igreja

Fig. 19: Casarão à direita da igreja


Fig. 20: Casario à retaguarda da igreja.

Fig. 21: Casario à retaguarda da igreja.




É certo que houve ao longo dos anos sucessivas reformas nos casarões e na igreja matriz. As modificações podem ser percebidas tanto nas fachadas quanto no interior dessas edificações. Essas reformas promovidas pelas famílias que ali residiram, ou ainda residem, com a finalidade de melhorar suas acomodações ou até mesmo para conservação do imóvel.



Fig. 22: Igreja N. S. das Mercês - L. direito.

Fig. 23: Igreja N. S. das Mercês - L. esquerdo.



No caso da igreja o problema é um pouco mais grave, pois as várias ordens religiosas que por ali passaram não deixam de registrar suas influencias culturais e religiosas. Como se deu na comemoração do “primeiro centenário da igreja matriz em 1937, com a inauguração da segunda torre com o relógio, da nave lateral esquerda e da colocação de um sino na torre mais antiga” (RAFAEL Filho). Essa reforma foi promovida pelo padre alemão José Zimmerman, que trabalhou na paroquial de Jaicós entre 1933 a 1938.



Fig. 24: frente da Igreja (fonte: TAVARES)

Fig. 25: frente da Igreja (fonte: TAVARES)

Fig. 26: Vista lateral da Igreja (fonte: TAVARES)

Fig. 27: Vista panorâmica da igreja (fonte: TAVARES)


Fig. 28: Casario à retaguarda da igreja

Fig. 29: Casario à retaguarda da igreja




Fig. 30: Casario à direita da igreja

Fig. 31: Casario à direita da igreja


Não obstante, podemos perceber que essas modificações ocorridas não foram suficientes para alterar de maneira definitiva, é, portanto, ainda possível à identificação do estilo original.


6 - Referências Bibliográficas
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira Machado. São Paulo: Estação da Liberdade; UNESP, 2001. p. 31-57.
GALLIANO, Alfredo Guilherme, Introdução a Sociologia. São Paulo: Harper e Row do Brasil, 1981.
OLIVEIRA, José do Carmo. O Bicentenário da Paróquia de Nossa Senhora das Mercês de Jaicós – Piauí. Apostila.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica 2004.
RAFAEL Filho, José. Sobre a História Religiosa de Jaicós. Apostila.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador D.Pedro II, um monarca nos tópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 207-245.
TAVARES, Zózimo. O Piauí no século 20100 fatos que marcaram o Estado de 1900 a 2000. 4 ed. São Paulo: Alínea Publicações, 2003. p. 59.
TOLEDO, Geraldo Luciano; OVALLE

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